No Dia Mundial da Água Senado mostra preocupação com gestão hídrica

O Senado realizou, nesta quinta-feira (21/03/2024), sessão especial em homenagem ao Dia Mundial das Águas, comemorado anualmente em 22 de março.

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O Dia Mundial da Água foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1993, com a finalidade de alertar a população sobre o uso consciente e a necessidade de preservação do recurso natural.

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O senador Jorge Seif (PL-SC) acentuou que a crise hídrica sem precedentes é exacerbada pela poluição e pelo uso não sustentável dos recursos hídricos. A poluição da água, proveniente de fontes industriais, agrícolas e domésticas, tem efeitos devastadores sobre os ecossistemas aquáticos, a biodiversidade e a saúde humana.

“Resíduos tóxicos, plásticos e outros poluentes transformam nossos rios, lagos e oceanos em depósitos de lixo, afetando negativamente a vida marinha e reduzindo a disponibilidade de água potável. A água potável, um direito básico e humano, ainda é inacessível para bilhões de pessoas ao redor do mundo, e a falta de acesso a água segura e saneamento básico é uma crise de saúde pública, levando a doenças e mortes prematuras, especialmente em comunidades vulneráveis em países em desenvolvimento” — disse.

Mudanças climáticas

A presidente da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), Verônica Sánchez da Cruz Rios, destacou que o Brasil detém 12% da água potável do planeta e defendeu a recomposição imediata do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, atualmente inativo. Ela ressaltou que as mudanças climáticas provocarão fortes impactos no Brasil nos próximos 60 anos, com secas mais intensas e agudas nas regiões Norte e Nordeste, enchentes e enxurradas no Sul, seca no Centro-Oeste e menor disponibilidade hídrica no Sudeste.

Ela defendeu a adoção de práticas agrícolas que utilizem menos água, o reúso e a otimização dos recursos naturais, a redução de perdas no saneamento, a construção de infraestruturas resilientes para lidar com as mudanças climáticas, além de obras de drenagem urbana que sejam capazes de lidar com o volume de chuvas que serão cada vez mais espaçadas. Verônica cobrou apoio dos senadores, ao ressaltar que cortes orçamentários e de outras contribuições financeiras vêm comprometendo o funcionamento da rede hidrometeorológica nacional e do sistema geracional de recursos hídricos neste ano.

Abastecimento ameaçado

Coordenadora do Fórum de Defesa das Águas do Distrito Federal, Lúcia Maria Rodrigues Mendes afirmou que a gestão desastrosa de nascentes e bacias hidrográficas locais prejudica e gera impacto na distribuição de água para todas as regiões do país. Além de apontar a ocorrência de grilagens, parcelamentos irregulares e as ameaças geradas pela impermeabilização urbana, ela afirmou que a especulação imobiliária, projetos urbanísticos da Terracap [Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal] e a expansão do plantio da soja ameaçam a Estação Ecológica de Águas Emendadas, e que mais de 200 mil pessoas que moram no DF não têm acesso a água.

Precisamos de toda a atenção com as águas do Cerrado. O Senado pode e deve fiscalizar e a ajudar a construir soluções“, defendeu.

Desafios históricos

Para a diretora do Departamento de Revitalização de Bacias Hidrográficas e Acesso à Água e Uso Múltiplo dos Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Iara Bueno Giacomini, a água é um elemento vital, e para o qual não há substituto. Ela ressaltou que a agenda da água para 2024 traz grandes desafios históricos e contemporâneos que precisam ser solucionados, além dos impactos gerados pelas mudanças climáticas. A diretora afirmou que 90% dos eventos extremos que assolaram o mundo nas últimas décadas estão relacionados a secas, inundações e tempestades, que afetam mais de 60% dos habitantes do planeta, e frisou que a governança e gestão das aguas é uma das principais ferramentas de adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

— Não existe adaptação e mitigação sem gestão de água, não existe justiça social sem gestão das águas, não existe combate a fome sem a gestão das águas. Aqui fica clara a responsabilidade que nós, gestores, temos sobre esse tema. O ano de 2023 foi bastante sintomático ao mostrar o que nos espera num futuro próximo e longínquo em termos de recursos hídricos — lembrou.

“Desconforto e inconformismo”

Ao manifestar desconforto e inconformismo com a governança da gestão das águas no Brasil, além de destacar que o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos foi previsto na Constituição para a gestão equilibrada das águas, Oscar Cordeiro, que é membro da Articulação em Defesa da Política das Águas, defendeu o fortalecimento e a revalorização da política nacional do setor. 

“É desalentador passarmos pela segunda comemoração do Dia Mundial da Água sem ter ainda uma definição muito clara e sem reunião do Conselho Nacional dos Recursos Hídricos. Estamos hoje sem ter um Conselho Nacional se reunindo, ele é a instância máxima da nossa política nacional, ele é quem formula as políticas de Estado. A água é um bem público compartilhado, e os estados têm um enorme papel nesse processo. Os estados têm sido sistematicamente subrepresentados e não se tem aí o devido reconhecimento do papel federativo — lamentou.

O secretário-executivo de Planejamento e Gestão Interna da Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará, Ramon Flávio Gomes Rodrigues, disse que o estado vem se destacando na política de gestão de recursos hídricos, que seria nacionalmente reconhecida. Ele destacou que, mesmo com quase 90% de seu território no semiárido nordestino, o Ceará vem conseguindo manter a população local abastecida, por meio de soluções como armazenamento de água, construção de barragens, canais, transposição de bacias, adutoras e outras ações complementares que possibilitam a vida na região.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

Fonte: Agência Senado

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