Saneamento faz bem ao meio ambiente? Parte 2

Jornalista Cecy Oliveira – editora da Aguaonline

Um estudo inédito sobre a prática ESG na cadeia de saneamento básico no Brasil – desenvolvido pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a KPMG no Brasil e intitulado: ESG e Tendências no Setor de Saneamento do Brasil traz números e informações que dão sustentação à tese de que as medidas mais eficientes para defesa e preservação ambiental estão ligadas à universalização dos serviços de saneamento.

Todas as cidades que levarem a seus habitantes serviços eficientes de abastecimento de água, de esgotamento sanitário, de gestão e manejo dos resíduos sólidos e de drenagem urbana e gestão das águas pluviais – extensivos às áreas suburbanas e rurais – terão também excelência ambiental.

E ocuparão os melhores lugares no ranking de desenvolvimento econômico e social. Como destaca o estudo: “a maior parte dos investimentos em saneamento são basicamente serviços de infraestrutura e, portanto, envolvem diretamente setores como construção civil e de indústrias de máquinas e equipamentos”.

E justifica lembrando que os impactos de tais investimentos afetam uma longa cadeia produtiva, envolvendo serviços como:

  • Fabricação de produtos de metal com a produção de reservatórios metálicos e tubos de ferro fundido – sendo altamente utilizados por indústrias de aço e alumínio;
  • Aumento na demanda de fabricação de produtos como plástico, borrachas, tubulações, válvulas, e, na indústria de materiais não metálicos, como cimento e concreto;
  • Na indústria eletroeletrônica, com a demanda por quadros de comando, automação, materiais de instalação e telemedição.

Em média, conforme os dados do estudo do Instituto Trata Brasil, no período 2005-2020, as obras ligadas à expansão dos serviços de saneamento no país sustentaram quase 69 mil empregos diretos por ano na construção civil. Esses empregos pagaram R$ 2,9 bilhões de salários, benefícios e contribuições trabalhistas.

Um ponto importante a se elencar é a predominância de empregos na base da cadeia, o que significa contratação de mão de obra de baixa especialização.

Outro aspecto relevante é o papel que o saneamento desempenha na regularização do ciclo hidrológico, seja na normatização da adução da água dos mananciais ou na devolução do efluente tratado ou a sua reutilização como água industrial. Ou na gestão adequada dos resíduos evitando que o lixo se acumule nos rios e lagos potencializando os efeitos de situações de enchentes, enxurradas e secas extremas que se tornam cada vez mais frequentes.

Não esquecendo de que manejar adequadamente as águas pluviais significa preservar os caudais e garantir a disponibilidade hídrica. E evitar catástrofes que chuvas intensas têm provocado em áreas de preservação, tomadas por habitações irregulares, ao redor de mananciais e em encostas sem drenagem eficiente.

Embora o Brasil disponha de uma imensa rede hídrica, ela está desigualmente distribuída fazendo com que grandes metrópoles, como São Paulo, tenham que ir cada vez mais longe para captar água para o abastecimento de sua população e para atender aos demais usos.

Se o saneamento presente traz benefícios sanitários, econômicos e ambientais para as grandes cidades e os pequenos municípios se torna crucial em cidades cuja principal atividade econômica é o turismo e que necessita prever serviços para demandas sazonais muito além do necessário para sua população permanente. Além disso, em muitas delas, como o Rio de Janeiro e as capitais do Nordeste, por exemplo, têm como maior atração exatamente as praias que precisam estar livres da poluição representada por esgoto não tratado correndo para o mar ou lixo mal recolhido manchando as areias. Ou ruas alagas a cada chuva mais forte.

O estudo traz informações interessantes como o fato de que órgão da ONU como o PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) consideram que “no centro das discussões sobre mudanças climáticas está, de muitas formas, a questão do acesso e gestão da água, ou de enchentes, secas, aumento do nível do mar e até mesmo incêndios florestais. Até 2030, espera-se que uma em cada duas pessoas enfrente uma grave escassez de água.

No campo, investir em irrigação mais eficiente será crucial, já que a agricultura responde por 70% de todas as retiradas globais de água doce. Nos centros urbanos, cerca de 100-120 bilhões de metros cúbicos de água poderiam ser economizados, globalmente, até 2030, somente com a redução de vazamentos”.

E informa que o PNUMA está trabalhando com parceiros governamentais para construir mais de 1.000 sistemas de coleta de água da chuva em todo o mundo e adoção de tecnologias de microirrigação ou sistemas de reutilização de água.

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