Construção deve estar comprometida com a formação de cidades resilientes

Entre 2001 e 2018, 74% de todos os desastres naturais no mundo foram relacionados à água, segundo relatório da ONU lançado em 2020. No Brasil, esse tipo de tragédia vem aumentando e exigindo iniciativas do poder público, das instituições e da iniciativa privada. Prova da urgência sobre o tema são chuvas intensas e inundações – como aconteceram em setembro de 2023 no Rio Grande do Sul – que atingiram mais de 100 municípios e milhares de pessoas, acumulando perdas materiais e humanas.

Considerado uma das maiores tragédias naturais dos últimos anos no Brasil, o evento acende um alerta para a adoção de iniciativas que minimizem os danos urbanos ocasionados por eventos climáticos extremos visando à redução do impacto de desastres ambientais.

De acordo com o vice-presidente da área de Meio Ambiente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Nilson Sarti, o setor da construção tem grande responsabilidade no desenvolvimento das cidades e deve adotar infraestruturas mais adaptadas para a gestão integrada da água e minimizar os efeitos de desastres naturais.

O setor está mais atento e comprometido em realizar obras e empreendimentos e alerta a temas como cidades resilientes e em adotar novas tecnologias alinhada às diretrizes ambientais. A indústria da construção está mais consciente de seu impacto nas cidades, buscando aliar desenvolvimento urbano com responsabilidade sustentável, declarou.

Sustentabilidade

O Relatório Mundial das Cidades, publicado pela ONU-Habitat, em 2022, apontou que a população global deve ser, até 2050, 68% urbana aumentando em 2,2 bilhões o número de pessoas vindas das áreas rurais. Atualmente cerca de 56% da população mundial vive em cidades.

Nilson Sarti destacou que “os impactos ocasionados pela ocupação populacional desordenada e a disponibilidade hídrica limitada levam a quadros de estresse hídrico crônico, resultando em racionamento, degradação dos rios e inundações”. A consequência desse processo são os efeitos danosos dos eventos climáticos extremos, disse o dirigente da CBIC.

Segundo o Banco Mundial, as cidades são responsáveis por mais de 70% das emissões de gases de efeito estufa e representam 2/3 do consumo global de energia, fatores que provocam eventos climáticos extremos e ressaltam a necessidade de construir cidades inclusivas e resilientes ao clima.

Na tentativa de contribuir com o tema, nos últimos 10 anos a IFC – Internacional Finance Corporation, organização do Grupo Banco Mundial, já investiu e mobilizou mais de US$ 9,2 bilhões em 76 iniciativas climáticas, acelerando a transição para um mundo de baixo carbono.

Vem crescendo no mundo o conceito de “cidades esponjosas”, em que a infraestrutura deve ser feita de forma a absorver a água da superfície e em sintonia com a natureza, em vez de depender apenas de tubulações e bombas. Estas soluções apresentam uma nova visão para a gestão hídrica e de edificações dentro do conceito denominado Net Zero Water.

As diretrizes Net Zero vão desde soluções aparentemente simples, como plantar árvores nas ruas, usar soluções de drenagem urbana sustentável, até diversificação da matriz hídrica por meio do reúso planejado na bacia.

De acordo com a CBIC, o envolvimento do poder público também é importante, com a criação de um arcabouço técnico e legal sobre o tema e com o incentivo de programas de eficiência hídrica que visem à redução do desperdício e o compromisso de toda a sociedade.

Outro importante papel do poder público é o investimento em infraestrutura de saneamento ambiental adequada. O Brasil ainda carece de tratamento de esgoto e o impacto nas cidades e na alteração climática é enorme, disse Sarti.

Os chamados edifícios verdes também são grandes aliados nesse processo. Essas construções incluem implantação de tecnologias que consomem menos água, redução de perdas do sistema hidráulico, implementação de infraestrutura verde para neutralizar o impacto da drenagem urbana, controle de perdas e economizadores.

Parceira da CBIC, a IFC desenvolveu a Certificação EDGE, que credencia edifícios ecoeficientes.  A proposta torna mais fácil projetar e certificar edifícios de todas as tipologias construtivas, tornando-os eficientes em termos de recursos naturais e com redução das emissões de carbono.

O setor da construção está cada vez mais preocupado com ações voltados para eficiência energética, gestão da água e construções mais modernas e sustentáveis. Temos o compromisso de reduzir o impacto ambiental e promover uma melhor qualidade de vida para as famílias, concluiu Sarti.

Fonte: CBIC.

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